terça-feira, 13 de julho de 2010

O FUNK E A MULHER

Do ano 2000 pra cá, passaram-se 10 anos. Então percebi o quanto mudaram as coisas em uma década. Sim, me parece óbvio, partindo da premissa que tudo muda, nada é tão estático e dez anos são dez anos! Mas onde quero chegar com essa pequena reflexão, é uma observação que fiz acerca de como, nesse intervalo de tempo, alteraram-se os valores da mulher através do funk carioca que já, há muito tempo, virou uma mania nacional.

Tudo começou com "É o tchan", um grupo de axé da Bahia que invadiu o Brasil com canções que para mim eram um tanto confusas. "Tudo que é perfeito a gente pega pelo braço, joga ela no meio, mete em cima e mete em baixo..." "depois de nove meses você vê o resultado..."Eu na minha infância inocente não ligava as coisas. Hoje meu cérebro rapidamente consulta seus arquivos, e tira conclusões que você, leitor, nem queira saber.

Esse grupo baiano, ratificou uma nova visão da mulher, começando assim com o culto à loira, à mulher gostosa, à bunda! Daí, muitas mulheres dançavam para os machos a "dança da bundinha", as crianças dançaram e os pais aprovaram. Uma moda era lançada. A sensualidade do feminino, e sobretudo da mulher brasileira, foi valorizada. A mulher com curvas generosas tornou um padrão de beleza e até de auto-afirmação.

Com o passar dos anos, o funk veio com a moda do "blusinha de silicone, sandalinha de cristal", mais uma vez a valorização da mulher, agora como um ser que se produz para encantar o homem. Não que as mulheres do passado, como minha avó, já não faziam isto, mas o que ressalto aqui é o enfoque dado a estas questões.

Depois, a mulher afirmou "Um tapinha não dói", e virou praticamente uma petição... "um tapinha não dói!"
Em seguida, a mulher foi chamada de "cachorra". O que antes poderia significar "vadia" ou coisa parecida, naquela época passou a equivaler "gostosa", "mulher fatal", "poderosa"...

E assim foi evoluindo! Muitas mulheres aderiram tudo que o funk impôs, tudo que o mundo machista as ensinou e aos poucos foi fazendo elas se acostumarem e acharem natural. Hoje, as mulheres podem afirmar, batendo no peito "Agora eu sou piranha e ninguém vai me segurar". E ninguém segura. Afinal, foram colocadas num lugar de submissão cultivado e aprovado por muitas.
Vamos ver o que nos espera para as próximas décadas?

8 comentários:

  1. Fazendo um apanhado geral o perfil da mulher ao longo dos tempos sofreu uma intensa modificação no que diz respeito ao seu valor e a sua simbologia principalmente no campo musical.De um idealismo romântico á uma submissão pitoresca sexual vulgar

    ResponderExcluir
  2. Excelente a matéria. Parabéns pela abordagem do tema. Sempre pensei nisso, mas nunca li por aí. Continue assim.

    ResponderExcluir
  3. Engraçado, nunca havia pensado no adjetivo "cachorra" como algo positivo pra mulher.
    Aliás, continuo achando que o funk, naquela época, já começava a trilhar os caminhos que hoje levam as meninas à idolatrar a Valeska como símbolo da mulher que faz o que bem entende, independente e/ou talvez espertona.
    Acho que, situando esse adjetivo no contexto temporal da coisa, podemos lembrar que "Spring Love" e "Bonde do Vinho" faziam parte do mesmo contexto; podiam até não chamar a mulher de cachorra assim, tão abertamente, mas suas letras, que já incitavam ao sexo, começariam a "revolução" putrefata que hoje é tida como costumeira.

    ResponderExcluir
  4. NOTA: Acho que viajei sem deixar as coisas claras!

    ResponderExcluir
  5. Entendi o que vc quis dizer e concordo!!

    ResponderExcluir
  6. HAHAHAHAHAHAHAHA!

    Luiza falou bonito.

    :)

    Vamos ralando na boquinha da garrafa? hahaha

    ResponderExcluir
  7. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  8. Cara, a imagem da mulher já vem sendo “marginalizada” há algum tempo.
    E elas lidam com isso como sempre fizeram, se adequando à situação.
    A sociedade machista denigre a mulher, que se vale do ocorrido transformando o que era ofensa em status.
    Hj, cachorra não é necessariamente a mulher vulgar. As mais ligadas levaram esse adjetivo para o lado “positivo”, fazendo com os homens aquilo que eles estavam acostumados a fazer com elas.
    No contemporâneo, as mulheres agem com inteligência, brincando com eles. Sem que eles percebam, elas usam o velho truque de fazer com que o homem se sinta útil para que “sua insegurança não comece a atrapalhar T-U-D-O”. rsrsrsrs.
    Ex.: -Amor, abre o pote de compotas prá mim?
    Mal sabe o marmanjo que ela conseguiria abrir sozinha...
    Concordo que seja surreal o fato de ainda haver esse tipo de percepção sobre a mulher, mesmo com 2010 anos de organização, isso, só no calendário cristão...
    ¬¬’’

    Adorei a abordagem!
    =D

    ResponderExcluir